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Por Guilherme Paixão

O delivery cresceu e se consolidou durante a pandemia. Para muitos, foi a tábua de salvação. Agora ele é parte importante da cadeia, mas ainda com muitos desafios na logística e nas vendas

Em meados de 2021, 89% dos estabelecimentos brasileiros utilizava o delivery nas suas estratégias de vendas. Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

Em março de 2020, todo o planeta teve que se adaptar à uma nova realidade. Com o avanço da Covid-19, a população foi obrigada a conhecer o que naquele momento era chamado “novo normal”. Foram diversas medidas como o fechamento de comércios por tempo indeterminado, afastamento social, proibição de eventos, etc.

Neste cenário, o setor de alimentação fora do lar, juntamente com o de eventos, foi o mais afetado pela realidade que se viveu principalmente nos anos de 2020 e 2021. Os empresários foram obrigados a baixar as portas de seus estabelecimentos num momento em que as dívidas continuavam chegando, enquanto o faturamento diminuía.

Com isso, o delivery ganhou ainda mais espaço na vida de quem trabalha com bares e restaurantes. Modelos como as dark kitchens (cozinhas que podem ser compartilhadas por mais de um estabelecimento e só atendem pedidos de delivery), que já haviam chegado ao Brasil, pareciam ainda mais populares.

Delivery e take away (para levar) foram as principais soluções encontradas para o setor como um todo continuar funcionando e tentar diminuir o prejuízo em um momento delicado e inesperado.

Em meados de 2021, uma pesquisa feita pela VR Benefícios com o Instituto Locomotiva, apontou que 89% dos estabelecimentos brasileiros utilizava o delivery nas suas estratégias de vendas naquele momento.

Um número que representava um aumento de 29% do que se mostrava no período pré-pandemia. Outro dado da mesma pesquisa mostrava a realidade do momento: para 56% dos estabelecimentos brasileiros do setor, o delivery significava mais da metade do faturamento.

Naquele ano, segundo estudo feito pela GS&NPD, em parceria com o Instituto Food Service Brasil, os gastos com delivery no país somaram R$ 40,5 bilhões em 2021, representando 24% a mais que o ano anterior. Isso revela como a pandemia acelerou um processo já existente no Brasil.

A Abrasel também realizou uma pesquisa junto aos empresários do setor no fim de 2021, momento em que já havia eventos acontecendo ao redor do país. Os dados revelaram que um terço dos entrevistados passaram a fazer delivery com o início das restrições pela Covid-19.

Outro ponto interessante é que 78% dos respondentes da pesquisa reiteraram o interesse em continuar com o delivery mesmo quando não houvesse mais restrições.

Tudo isso mostra como os bares e restaurantes tiveram que se adequar de acordo com as restrições que cada município trazia aos empresários, e como isso transformou o setor de alimentação fora do lar.

Grandes cidades como Belo Horizonte, conhecida inclusive como capital dos bares em razão da quantidade de estabelecimentos, sofreram com longos períodos de restrições.

A pandemia não apenas modificou o estilo de vida das pessoas com o isolamento social, mas também deu origem a novas necessidades e demandas na rotina diária.

Diante das restrições em espaços físicos, a utilização de serviços de entrega de alimentos tornou-se a única alternativa viável para que os fornecedores conseguissem manter suas operações. Esse período foi crucial para consolidar o serviço de entrega entre os clientes habituais e conquistar novos usuários.

Passado o período de distanciamento social, observa-se uma mudança comportamental muito clara no consumidor. A busca pela praticidade de não ter que sair de casa, principalmente em grandes metrópoles, foi uma importante alteração no contexto do setor de alimentação.

Uma pesquisa realizada pela Abrasel em março de 2022 questionou empresários sobre a parcela do delivery no faturamento das empresas antes, durante e após a pandemia. O resultado foi claro sobre como a entrega de comida foi vital para a sobrevivência do setor de bares e restaurantes como um todo.

Enquanto antes da pandemia apenas 12% dos entrevistados diziam que o delivery tinha participação de pelo menos 50% do faturamento do estabelecimento, durante a pandemia o número era de cerca de 45% dos estabelecimentos. Em março de 2022, o número já havia baixado para 17% dos bares e restaurantes.

Outro dado interessante a ser destacado é a média da participação do delivery no faturamento dos estabelecimentos. Antes do período de restrições, o número era de 26%. Chegou a ser uma média de 50% do faturamento dos estabelecimentos pesquisados, e após o período de distanciamento social baixou para 32%.

O cenário do delivery no Brasil

É inegável que o período dentro de casa resultou em uma mudança de hábitos dos consumidores como um todo. Entretanto, segundo ao que parece o brasileiro foi um dos mais impactados com a realidade que se apresentou naquele momento.

No Brasil, segundo dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), o número de usuários de aplicativos de delivery cresceu de 30,4% em 2019 para 54,8% em 2021, um aumento de 24% em apenas dois anos.

Resultado disso, de acordo com a Statista, consultoria especializada em análises de mercado e consumo, o público brasileiro é responsável por aproximadamente metade (48,77%) de todos os pedidos de delivery da América Latina.

Em seguida ao mercado brasileiro, estão México (27,07%) e Argentina (11,85%). Isso reflete a febre que o delivery se tornou no Brasil a partir do ano de 2020, e como este segmento se tornou essencial aos bares e restaurantes por aqui.

Canais de venda

O conceito de se alimentar em casa vem muito antes da existência dos aplicativos de delivery. Na Roma antiga, no fim do século 19, muitos trabalhadores não tinham comida em casa. Assim, foram criados os thermopolium , que eram lugares que essas pessoas podiam buscar comida pronta, um modelo bem semelhante ao take away.

A primeira entrega de comida que se tem notícia aconteceu em 1889, na cidade de Nápoles, para o casal real rei Umberto e rainha Margherita. A responsabilidade foi do pizzaiolo Raffaele Esposito e sua receita que levava tomate, mussarela e manjericão (coincidência ou não, a pizza que hoje leva o nome da rainha).

O tempo se passou e em meados do anos 80, o disk pizza chegou à cidade de São Paulo, com pedidos feitos, como já sugere o nome, exclusivamente por telefone. Naquele momento, a capital paulista tinha cerca de 200 estabelecimentos que faziam entregas de pizzas.

Atualmente, o número é de cerca de 4500, e segundo a Associação de Pizzarias Unidas do Brasil, a cidade é a segunda que mais consome pizza no mundo, atrás apenas de Nova York.

Uma pesquisa realizada pela Abrasel em parceria com o Sebrae, revelou um pouco do contexto do delivery no Brasil atualmente. Em uma base de mais de 5000 entrevistados, cerca de 94% afirmaram que pediam comida por delivery pelo menos duas vezes por mês.

Além disso, a pesquisa também revelou que 73,8% dos participantes optam pela entrega da comida ao invés de buscar nos estabelecimentos.

Outro dado interessante é que 74% dos entrevistados afirmaram que fazem seus pedidos por aplicativos. Dentre os aplicativos de entrega de comida, um deles se destaca no cenário brasileiro. O iFood foi citado como o marketplace favorito de 82,2% das pessoas, seguido pela Rappi (9,1%) e PedePronto (2,1%).

Um dos pontos de discussão em relação aos aplicativos são as taxas que são cobradas dos empresários do setor de bares e restaurantes. Um levantamento realizado pela Abrasel em relação aos canais de vendas utilizados pelos empreendedores revelou uma resposta as taxas dos marketplaces.

De acordo com a pesquisa, 45,5% dos entrevistados vendem comida via WhatsApp e 34,4% utilizam sites, plataformas ou aplicativos próprios.

Acordo do CADE

No início de 2023, o iFood formalizou um acordo com o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), limitando contratos de exclusividade com restaurantes em resposta a denúncias de abuso de posição dominante.

O Termo de Compromisso de Cessação (TCC) estabelece que a plataforma pode ter no máximo 25% de seus parceiros sob contratos exclusivos. Exclui ainda acordos com marcas que possuam mais de 30 unidades no país.

Para restaurantes de menor porte, o TCC define limites com duração máxima de dois anos e quarentena adicional de um ano. Segundo o CADE, o acordo visa estimular a concorrência e melhorar o acesso de outros aplicativos ao setor.

Os contratos, mesmo para grandes marcas, não podem ultrapassar dois anos. O CADE, órgão federal de defesa econômica, salientou que o TCC é benéfico para assegurar a cessação imediata de práticas infrativas.

Vigente por quatro anos, o acordo é monitorado por uma instituição designada pelas empresas que instauraram o processo, com um prazo de seis meses para implementação das mudanças.

Arnaldo Bertolaccini, vice-presidente de restaurantes do iFood, enfatizou que os contratos de exclusividade não são ilegais, destacando a preferência dos restaurantes pelo iFood devido à qualidade do serviço.

O caso teve origem em 2020, quando a Rappi solicitou ao CADE uma investigação sobre práticas anticompetitivas do iFood. Alegou-se que o iFood impunha exclusividade aos restaurantes, prejudicando a capilaridade dos concorrentes.

O Uber Eats encerrou operações no Brasil em 2022, citando a inviabilidade financeira diante das altas taxas de rescisão e longos períodos de permanência. O acordo busca equilibrar a concorrência no setor, considerando os desafios enfrentados pelos restaurantes durante a pandemia.

Desafios logísticos no delivery

Em relação ao modelo de trabalho, os restaurantes têm três possibilidades: apenas delivery, apenas salão ou ambos. E tendo isso em mente, é importante que o empreendedor saiba trabalhar de acordo com cada demanda. Em sua entrevista ao O Café e a Conta, João Barcelos ressalta a importância de se adaptar às exigências de cada modelo.

“Muitas vezes é necessário ter uma cozinha dedicada ao delivery e outra ao presencial. Muitos dão muita ênfase ao cliente presencial e acabam pausando o marketplace, a venda digital, no aplicativo próprio quando a coisa pega fogo. Prejudica-se o delivery, porque é mais fácil pausar o delivery do que abaixar as portas no presencial, e nem é aconselhável fazer isso”, diz João.

“Quem é só delivery, sabe que o foco dele é cuidar da logística, da entrega, boa embalagem. Hoje vemos muitos fechando o salão e focando em delivery. Para quem tem os dois, o delivery é como uma segunda loja dentro da sua loja”, finaliza.

Open Delivery

O Open Delivery é uma iniciativa da Abrasel que visa padronizar a comunicação entre as empresas que atuam no setor de delivery de alimentos. Essa padronização é feita por meio de uma série de protocolos que definem como as informações devem ser transmitidas entre os diferentes participantes do ecossistema, como restaurantes, aplicativos de delivery, sistemas de gestão e meios de pagamento.

Para os restaurantes, a padronização permite que eles publiquem seus cardápios e informações de atendimento em um único lugar, de forma que sejam facilmente encontrados por clientes em diferentes aplicativos de delivery. Isso reduz o tempo e o esforço necessários para gerenciar a presença online do restaurante.

Para os sistemas de gestão, a padronização permite que eles forneçam dados mais precisos e atualizados para os restaurantes e aplicativos de delivery. Isso melhora a eficiência das operações e a experiência do cliente.

De acordo com o Célio Salles, conselheiro da Abrasel e cocriador da primeira versão do movimento, o Open Delivery se trata de padrões que integram os softwares de gestão de restaurantes e bares com aplicativos, marketplaces e operadores logísticos, reduzindo as ineficiências na gestão do cardápio, pedidos e logística.

“O Open Delivery traz fluidez e estimula competitividade. Com o protocolo estabelecido e formalmente usado por restaurantes e marketplaces, a iniciativa gera maior competitividade e aumento da concorrência. Com o aumento, os serviços são obrigados a melhorar“, diz.

O Open Delivery tem o potencial de gerar uma série de impactos positivos no mercado de delivery de alimentos. Entre eles, destacam-se:

Melhoria da experiência do cliente: o cliente terá mais opções de restaurantes e serviços, além de poder fazer pedidos de forma mais rápida e fácil.

Aumento da concorrência: a padronização facilita a entrada de novos players no mercado, o que pode levar a preços mais competitivos e um melhor atendimento ao cliente.

Redução de custos: a padronização pode gerar economias para as empresas participantes, o que pode ser revertido em benefícios para os clientes.

Se trata de uma iniciativa que merece atenção de todos os envolvidos no mercado de delivery de alimentos. A padronização da comunicação pode trazer benefícios significativos para todos os envolvidos, incluindo clientes, restaurantes e aplicativos de delivery.

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