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Enquanto o mundo se conecta virtualmente, as relações humanas se perdem no labirinto das telas. Mas será que a tecnologia é a vilã ou a forma como a utilizamos?

Por Valério Fabris

"O mundo está diante do desafio de se resgatarem as interações humanas, a reconexão social". Foto: Freepik

Humanizar as relações entre as pessoas é um objetivo tão urgente quanto o de se cuidar do debilitado meio ambiente global. No caso da convivência social, tornou-se lugar-comum dizer que o acelerado avanço tecnológico veio embutido na promessa de que, assim, sobraria mais tempo para as pessoas usufruírem de uma vida aprazível. É voz corrente, porém, que aconteceu exatamente o contrário. O tempo sumiu.

O centro da questão não está na aceleração tecnológica, mas na alienação social que se espalhou por quase todo o planeta. É o que há duas décadas vem reiterando Hartmut Rosa, sociólogo e cientista político alemão, renomado nos meios acadêmicos, sobretudo no Hemisfério Norte. Ele tem 49 livros publicados.

A mais recente de suas obras é "Aceleração – a transformação das estruturas temporais na modernidade", publicada no Brasil pela Editora Unesp. Esse pensador diz que a velocidade propiciada pela tecnologia não é nociva. Torna-se maléfica quando apropriada em favor da alienação.

Hartmut rosa entre aspas

"Usamos nossos olhos e nossas costas para ficarmos o dia todo sentados e colados em nossas telas. Para tanto, precisamos de uma forma permanente de atenção e alerta. Isso nos leva a uma nova crise de esgotamento."

"Alienação do mundo e alienação de si mesmo não são duas coisas separadas, mas simplesmente dois lados da mesma moeda."

"Estamos nos tornando incapazes de formar uma relação significativa de compreensão e interação mútuas, seja com nosso ambiente material (por exemplo, no caso do trabalho) ou com outros seres humanos."

"Assim, vivemos em uma sociedade em que, cada vez mais, os encontros são evitados."

"Existe algo lá fora, com o qual você precisa se conectar. Você não é apenas um sujeito em si mesmo."

"Quando dou uma palestra, costumo perguntar ao público o seguinte: 'quem pensou nos últimos meses que deveria desacelerar, porque, senão, poderia sofrer burnout?' (síndrome de distúrbio psiquiátrico). Quase toda a plateia levanta as mãos."

"Como resposta à alienação, formulei em meu primeiro livro sobre aceleração a ideia de ressonância. (O termo 'ressonância' refere-se a uma experiência subjetiva de relação entre a pessoa e o mundo. É o oposto de 'alienação', que se entende como um 'ensimesmamento', em que os interesses são excessivamente voltados a si mesmo e ao seu entorno imediato)."

"Somos não alienados onde e quando ressoamos com o mundo. Onde as coisas, lugares, pessoas que encontramos nos tocam, nos agarram ou nos movem, onde temos a capacidade de responder com toda a nossa existência."

"Há uma ansiedade geral em nossas sociedades dizendo-nos que estamos indo rápidos demais. A ressonância pode ser uma resposta ao que esse tempo de agora está nos dizendo."

"A ressonância pode ser a resposta ao tempo. Ressonância é uma forma de relacionamento. Começa com a leitura do rosto do outro. Esta é uma minúscula interação que a humanidade aprendeu há bilhões de anos."

"Em uma videoconferência até podemos nos ver. Mas não há como um olhar nos olhos do outro. Na copresença física podemos sentir a mesma temperatura do ambiente, sentir o mesmo cheiro de uma fragrância, ouvir o canto do mesmo pássaro que está lá fora. Isso é ressonância. No modo online nada disso é compartilhado."

"Alcança-se a ressonância ao se conectar com algo; com uma pessoa, com um livro, uma melodia. Quando você está em ressonância com algo, você muda; não é mais, exatamente, a mesma pessoa de antes."

"Sempre digo que a harmonia total ou consonância total não é ressonância, de forma alguma. Para que se tenha ressonância é preciso que haja vozes diferentes. Ressonância está ligada a abertura."

"Aceleração só é um problema quando leva à alienação."

O ex-presidente Obama também associa o viciado uso das telas à alienação social

Trechos do discurso de Barack Obama na Universidade de Stanford, no coração do californiano Vale do Silício, dia 22 de abril de 2022:

"A internet é uma ferramenta. As redes sociais são uma ferramenta. No final do dia, as ferramentas não nos controlam. Nós as controlamos. E nós podemos refazê-las. Cabe a cada um de nós decidir o que valorizamos. Então, temos de usar as ferramentas que recebemos para promover os valores."

"Dentro de nossas bolhas de informações pessoais, nossas suposições, nossos pontos cegos, nossos preconceitos não são desafiados. Eles são reforçados. E, naturalmente, é mais provável que reajamos negativamente àqueles que consomem fatos e opiniões diferentes das nossas. Isso aprofunda as diferenças sociais e raciais existentes; amplia as divisões religiosas e culturais."

"A proliferação de conteúdo e a fragmentação de informações e audiências tornaram a democracia mais complicada."

O planeta jamais voltará à uma vida anterior à tecnologia: "você pode usufruir muito dela, se souber usá-la direito", diz Arthur C. Brooks, cientista e professor da Harvard University

O mundo está diante do desafio de se resgatarem as interações humanas, a reconexão social. "Vegetar na frente de uma tela (o que nove entre dez adolescentes norte-americanos dizem fazer para 'passar o tempo') é simplesmente mais fácil do que falar com uma pessoa. As comunicações virtuais, como aplicativos de texto, são mais rápidas e fáceis do que uma visita pessoal ou um telefonema."

Assim escreveu Arthur C. Brooks na The Atlantic, edição que circulou em 29 setembro de 2022. A prestigiosa revista foi fundada em 1857 na cidade de Boston. O articulista, 64 anos, é cientista social, PhD, professor da Harvard University.

Utilizando-se da neurociência e da filosofia, ele dedica-se a transmitir estratégias para que as pessoas possam usufruir de suas melhores vidas. Realiza treinamentos em desenvolvimento profissional para empresas, para a academia, o governo e as comunidades religiosas.

O título do artigo: "A tecnologia pode tornar seus relacionamentos mais superficiais". No subtítulo, Arthur Brooks ressalva: "Mas tudo depende de como você a usa". O planeta, diz ele, jamais voltará à vida anterior ao uso da tecnologia, "é claro".

É preciso, no entanto, que as pessoas continuem a cultivar a tecnologia, mas de modo que não se sufoque o afeto, a interação humana. A conversa espontânea, cara a cara ou voz a voz, está generalizadamente se escasseando.

O jovem acha "grosseiro" telefonar diretamente ao amigo

O cientista Arthur Brooks recorre a um episódio de sua família para ilustrar o que diz. O filho digitava no celular a mensagem de texto a um amigo. Brooks sugeriu-lhe que, em vez de escrever, telefonasse ao amigo. O filho recusou a sugestão, alegando que um telefonema "seria grosseiro".

Esse é um exemplo de que, mesmo com os celulares à mão das pessoas, alastrou-se o medo de conversar ao telefone. É a "telefonofobia". Brooks completa: "O problema é que, com essas tecnologias, perdemos a dimensionalidade".

O termo dimensionalidade refere-se, na psicologia, ao relacionamento harmonioso, em que as atitudes, características e aspirações entre as pessoas correspondem ou se complementam mutuamente.

Explica o articulista da The Atlantic: "As mensagens de texto não conseguem transmitir muito bem a emoção, porque não podemos ouvir ou ver nossos interlocutores. O mesmo, como acrescentou o articulista, vale para as DMS (mensagens diretas em chats, isto é, bate-papos privados nas redes sociais)".

Mensagens de texto, ok. Mas dê um jeito de visitar os amigos

Brooks enfaticamente diz que é impensável e indesejável um mundo pré-tecnologia digital. A internet, sublinha ele, tornou-se parte inquestionável do ecossistema de vida. "Não é sensato esperar que alguém pare de enviar mensagens de texto", mas, "sempre que possível", esforce-se para se encontrar pessoalmente com os amigos e conhecidos, "especialmente os mais íntimos". Quando o encontro for impossível, "use a tecnologia cara a cara ou o telefone", enviando mensagens de texto ou semelhante tecnologia "apenas para assuntos pessoais e urgentes".

Para que se colham todos os benefícios das ferramentas digitais, como tem reiterado o professor da Harvard University, devemos usá-las de forma a "melhorar nossos relacionamentos". Ele assim afirmou em outro artigo publicado na edição de 9 de outubro de 2022 da revista The Atlantic, intitulado "Como usar a tecnologia sem arruinar nossas vidas". Isso vale para todas as tecnologias de todos os tempos, especialmente as que se voltam para a comunicação.

Solidão na tela: transtorno de humor, depressão, ansiedade

Eis um dos mantras de C. Brooks: "Interagir é melhor do que vegetar". Trata-se de uma regra, como lembra o cientista, que já era muito evidente em 1977, quando ele tinha 13 anos de idade.

"Não há nada de revolucionário nessa regra: há 45 anos meus pais me disseram para sair com meus amigos em vez de assistir à televisão. A diferença hoje, além do fato de a televisão não caber no bolso, está na evidência empírica: sabemos hoje que, se praticada em excesso, a solitária distração na tela reduz a felicidade e pode levar a transtornos de humor, como depressão e ansiedade."

O celular cabe no bolso. Está nas mãos (ou ao pronto alcance delas) da maioria dos habitantes do planeta. Estima-se que no mundo estejam sendo usados, neste ano de 2023, cerca de sete bilhões de aparelhos celulares, dispositivos móveis que essencialmente são computadores portáteis.

A qualquer instante do dia, expressiva parcela de toda a humanidade está intermitentemente de olhos fixos neles, ansiosamente dedilhando mensagens, sem apreciar a paisagem e o andar dos passantes nas calçadas.

Frases de Philip Kotler, o papa do Marketing Global

"Seja uma causa, não apenas um negócio. Tenha uma missão mais elevada."

"Marketing é uma corrida sem linha de chegada."

"A principal causa do fracasso da empresa é o sucesso da empresa."

"Quem deve, em última análise, projetar o produto? O cliente, é claro."

"Você nunca deve ir para a batalha sem antes de vencer a guerra no papel." "As empresas precisam de menos chefes e mais autogestores."

"Os mercados sempre mudam mais rápido do que o marketing."

"Hoje você tem que correr mais rápido para ficar no mesmo lugar." "Se cada departamento fizer bem o seu próprio trabalho, a empresa vai falir."

"Prefiro melhorar meu negócio todos os dias do que depender de uma inovação todos os anos."

"O pensamento de marketing está mudando. Em vez de tentar maximizar o lucro da empresa em cada transação, maximizar o lucro de longo prazo de cada relacionamento."

"Marketing é o uso criativo da verdade."

"O futuro do marketing está no marketing de banco de dados, onde sabemos o suficiente sobre cada cliente, passando a fazer ofertas relevantes e personalizadas para cada um."

"A única maneira de atender os interesses de sua empresa é atender os interesses de seus clientes."

"O objetivo da venda é satisfazer uma necessidade do cliente; o objetivo do marketing é descobrir sua necessidade."

"As comunicações integradas de marketing são uma maneira de examinar todo o processo de marketing do ponto de vista do receptor."

"Toda empresa precisa de dois departamentos de marketing. Um que domine as táticas de se livrar dos produtos de hoje. E o outro que domine a estratégia de imaginar os produtos de amanhã."

"Se não mudarmos nossa direção, é provável que acabemos aonde estamos indo."

"O departamento de vendas não é toda a empresa, mas é melhor que toda a empresa seja o departamento de vendas."

"O cenário econômico de hoje está sendo moldado por duas forças poderosas: tecnologia e globalização."

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