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Após ser dispensado do Bob's, Ademário Santos criou a Ex Burguer a partir dos conhecimentos adquiridos em sua experiência anterior e ganhou notoriedade na periferia paulistana

Por Guilherme Paixão

Segundo Ademário Santos, dono da franquia Ex Burguer, já existem 75 unidades do empreendimento. Foto: Divulgação.

Nos rankings dos países mais desiguais do planeta, o Brasil sempre ocupa as primeiras posições. A população de moradores de periferias em nosso país chega a 17 milhões de pessoas, o que significa que se as favelas fossem um estado, este seria o quarto estado mais populoso do país. Entretanto, o que a maioria das pessoas desconhece é o potencial econômico das comunidades no Brasil.

Estima-se que apenas nas favelas se movimentam quase 181 bilhões reais por ano, um valor superior a 21 dos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal. Com isso, nota-se o impacto das periferias dentro da economia do país, inclusive com um caráter empreendedor. Um levantamento do Instituto Data Favela aponta que 3 de cada 4 moradores de favela no Brasil já tiveram, tem ou gostariam de ter seu próprio negócio.

E foi neste contexto, que Ademário Santos abriu um MEI e criou a Ex Burguer na garagem de sua casano Jardim São Luiz, em São Paulo, no ano de 2012. Naquele ano, ele, que havia sido demitido de seu trabalho no Bob’s, decidiu começar a vender lanches em sua casa, numa época em que o iFood ainda não era tão popularizado.

Segundo o empresário, na periferia existiam muitos lanches “baratos e feitos de qualquer jeito”. Então o que se buscava era criar algo que cabia no orçamento dos moradores da região, mas que fosse bem feito, com produtos de qualidade. Tudo o que ele aprendeu em sua experiência no Bob’s, tentou reproduzir e adaptar para a sua realidade.

No início do Ex burguer, o próprio Ademário era o responsável por tudo. Ele fazia a comida, recebia os pedidos e saía para entregar. Porém, em frente ao seu estabelecimento, existia uma pizzaria que sempre tinham inúmeros pedidos e entregadores esperando. O foco era conseguir o mesmo volume de pedidos do concorrente, e assim aumentar sua lucratividade.

A periferia venceu

É este o slogan da EX Burguer, mas poderia ser também um resumo da vida do fundador, Ademario Santos Silva. Ele comanda a rede com dezenas de endereços. Grande parte está instalada em áreas paulistanas com comunidades, como Vila Joaniza, na Zona Sul, e Lajeado, na Zona Leste. As unidades vendem juntas em média 200.000 hambúrgueres por mês.

O número impressionante, que se equipara ao de marcas badaladas da classe A, está longe de ser o ápice do negócio. Há ainda mais sete lojas em obras na Grande São Paulo (no bairro do Jaguaré e nos municípios de Suzano, Cotia, Osasco, Guarulhos e Santo André, este com duas) e vinte pessoas na fila de espera para adquirir uma franquia, cuja adesão custa 20.000 reais.

"Faço questão de conhecer os interessados. Investidores grandes me procuraram, mas não quis me vender. Eu entendo a marca como uma ferramenta de transformação social. O franqueado é o cara que abre para a família trabalhar. O cunhado faz lanche, o pai entrega… Um menino na chapa é um a menos na biqueira (ponto de venda de droga)", acredita Silva.

“A pizza na periferia vende muito porque consegue alimentar um maior número de pessoas”, analisa Ademário. Ali surgiu a ideia de criar combos de lanches para toda a família e fazer a panfletagem para divulgar a ideia. Os combos criados eram de até 30 lanches, com o intuito de atender até mesmo aniversários e confraternizações.

Com este aumento de demanda, foi necessário a contratação de vizinhos para apoiá-lo. A partir daí, o Ex Burguer começou a ganhar notoriedade no Jardim São Luiz, o que resultou em pedidos para que se abrissem outras lojas em favelas da região. E assim, Ademário começou a criar uma franquia. Foram mais dois restaurantes abertos em bairros vizinhos, e ali ele deixou de ser MEI e abriu um EIRELI** (tipo societário de microempresa no qual é exigido apenas um sócio, o proprietário).

**O modelo EIRELI foi extinto em 2021. Com isso, todas as empresas registradas nessa categoria empresarial foram transformadas automaticamente em SLU (Sociedade Limitada Unipessoal), que possui, essencialmente, as mesmas características da EIRELI, mas não exige capital social mínimo e sócio para abrir empresa e separa o patrimônio pessoal do patrimônio do empreendedor.

Ali, ele também buscou se informar com a ABF (Associação Brasileira de Franquias) que o instruiu para contratar um advogado e resolver todas as questões burocráticas necessárias para um franqueador. Atualmente, todas as unidades do restaurante estão regularizadas.

A fama da franquia começou a se espalhar pelas periferias da capital paulista, o que trouxe ainda mais lucratividade para as unidades do restaurante. “Na periferia as pessoas gastam o que ganham. A pessoa que vive na favela não tem educação para investir na bolsa de valores como quem é rico. Quem consome em nosso país é o pobre, até quando ele viaja é dentro do nosso território. O rico vai para o exterior, o pobre movimenta a economia”, destaca Ademário.

Para o empresário, o caráter inovador do Ex Burguer começou a criar tendências dentro do empreendedorismo nas favelas. “O que eu percebo hoje é que muitos outros se basearam neste modelo para criarem os combos em seus restaurantes. Com sanduíche, batata frita, refri e sobremesa, assim como os que eu servia no meu tempo no Bob’s”, analisa Ademário.

Em 2020, as pessoas tiveram muitos problemas em razão do início da pandemia de Covid-19. Entretanto, segundo o empresário, a situação foi inversa para o Ex Burguer. “As restrições funcionaram como um impulsionador para o meu empreendimento. Se antes tínhamos 12 lojas, durante o período de quarentena, atingimos quase 100 unidades”, revela.

Entretanto, houve uma compreensão por parte do empresário no que remete a adesão dos franqueados. Naquela época, onde existiam mais dificuldades financeiras, para ter uma unidade do restaurante, o investimento era de 20 mil reais. Hoje em dia, o custo fica em 150 mil reais, além de ter o investimento em parte elétrica e hidráulica. Já o franqueador fornece estrutura, equipamentos e o treinamento da equipe envolvida no projeto.

Por ser uma franquia com origem na favela, existem regras para que se mantenha este perfil no empreendimento. “Já me solicitaram para abrir uma unidade em bairros nobres, porém meu foco continua na periferia. O aluguel não pode ultrapassar 1500 reais, em uma loja de no máximo 50m quadrados. O Ex Burguer é uma hamburgueria da periferia”, reitera Ademário.

Com o crescimento da franquia, houve a necessidade de criação de uma distribuidora particular da empresa. Com isso, foi criada a KAV Foodservice, responsável por entregar os ingredientes para restaurantes. O intuito com essa medida é atingir cada vez mais regiões do país. Inclusive, atualmente já existe uma unidade em Belo Horizonte e outra em Salvador entre as 75 unidades do Ex Burguer.

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